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Writer's pictureC. A. Ayres

O Tempo que Não Para nem Volta



São vários os motivos pelos quais as famílias sofrem, os filhos se desvirtuam, os casais se divorciam, as pessoas se afastam de seus sonhos, de suas vidas, de Deus.

A economia pobre do país, a corrupção desgovernada, as calamidades da natureza, doenças, traições e decepções da vida fazem com que as pessoas vivam de acordo com as oportunidades, ao invés de fazê-las.

Em uma pesquisa recente, perguntei a algumas pessoas sobre quando o trabalho tomou o tempo de estar com a família e as consequências disso. Eis alguns relatos reais:

  • “Após ter sido demitido de meu trabalho, recebi o seguro desemprego por meses e ia todos os dias às agências de emprego procurar trabalho. Nada por meses, até que resolvi abrir um negócio próprio. Isso fez com que eu trabalhasse até 16 horas por dia, sacrificando as noites e fins de semana com a família por muitos meses. Meu casamento, meus filhos e meus familiares praticamente se tornaram estranhos. O negócio não vingou, eu acabei finalmente encontrando um trabalho numa empresa que não era exatamente o que eu queria, mas estou estudando e agora, com o suporte e com mais tempo para a família, estou realmente crescendo e satisfeito com o retorno.”

  • “Minha vida estava um caos há uns anos atrás. Meu marido desempregado e fazendo bicos por anos e nada de encontrar um trabalho fixo. Eu tive que trabalhar muitas vezes em dois ou três empregos para pagar todas as dívidas e manter o estilo de vida que tínhamos, achando que os filhos precisavam de aulas de natação, ballet, piano, futebol, basquete, festas caras de aniversário e presentes sem fim nas datas e feriados etc etc etc. Chegamos a um ponto onde eu preferia estar no trabalho do que ter que lidar com o drama das crianças em casa e um marido que parecia não gostar de trabalhar e não reconhecia meu valor. Eu o cobrava e era autoritária, porque eu estava sustentando a casa. Ele finalmente encontrou um trabalho e hoje coloquei a família em primeiro lugar e também refiz minha vida, e meus filhos podem ver que estamos mais equilibrados, e temos um ambiente familiar mais saudável, mas pagamos um preço muito alto para sobreviver num mundo onde os títulos e a conta bancária contam mais do que quem somos.”

  • “Após o divórcio, vi-me com dois filhos para sustentar, e a pensão alimentícia não cobria nosso suporte. Tive que trabalhar e depender de famíiliares e amigos para cuidar dos filhos, levá-los à escola e até colocá-los na cama. Acabei gastando boa parte do salário em presentinhos para os filhos para tentar compensar minha falta, o que não ajudou muito quando eles chegaram à adolescência, e se desvirtuaram pelas drogas e más amizades. Precisei encontrar um trabalho que exigiu menos de meu tempo e fui atrás tentar resgatar meus filhos. Hoje colho as consequências das más escolhas do pai e também minhas, mas entendo melhor que família nenhuma é perfeita, mas não estamos sozinhos.”

  • “Eu era um executivo de sucesso no mundo da compra e venda de ações na Wall Street em Nova Iorque. Após mais de vinte anos, o sucesso profissional foi estabelecido, mas o familiar destruído. Sofri um derrame aos 40 anos de idade, um ataque do coração aos 44. Minha esposa estava em depressão e meu único filho na penitenciária por uso e venda de drogas. Minha vida em risco. Olhei para trás e vi que nunca havíamos tido vida familiar, e querer que minha esposa cuidasse de tudo sozinha, e inventasse mil desculpas do porque da minha ausência nas atividades com meu filho e de família, foi demais para ela. Vendemos tudo e nos mudamos para uma casa na praia numa cidade pequena em outro estado. O terno e gravata diários foram substituídos por chinelos e shorts, caminhadas na areia, uma alimentação mais natural e simples e uma vida mais simples em todos os sentidos. A conta bancária encolheu consideravelmente, mas o casamento melhorou, minha esposa hoje sorri, e meu filho, agora fora da prisão, mora conosco e está estudando e cuidando de sua saúde. “

  • “Quando nos aposentamos, meu marido e eu tínhamos planos de viajar, visitar os filhos, fazer aquelas festas de família em datas especiais, mas a realidade foi diferente. Uma de nossas filhas engravidou e não obteve ajuda do pai da criança. Outro filho sofreu um acidente e a esposa o largou com os filhos. Tivemos que ajudar e tomar conta das crianças para que a filha fosse estudar e o filho se cuidar. Gastamos nossas economias e precisamos trabalhar, mesmo com a idade avançada e a saúde debilitada. No final do ano passado meu marido faleceu de repente com um infarte, e eu tive um derrame. Finalmente minha filha formada está trabalhando e meu filho mais independente recebe ajuda de instituições e as crianças estão crescendo. São muitos sacrifícios, muitas vezes por necessidade, outras vezes porque queremos dar o melhor aos outros, mas poderíamos ter nos preparado melhor e não nos sacrificado tanto.”

E qual é a sua história?

Quantidade x Qualidade

Mães em sua grande maioria, e também pais, sentem-se culpados por não poderem passar tempo suficiente com seus filhos pequenos. Muitos imaginam que a falta de tempo em geral, particularmente devido à necessidade de trabalhar longas horas para o sustento da família, farão com que os filhos cresçam com problemas de socialização, sintam-se rejeitados ou se desenvolvam de forma mais devagar ou errada que os outros.

Estudos em larga escala feitos pelo Journal of Marriage and Family (1) descobriram que não é o tempo passado com a criança que a beneficia, mas a qualidade do tempo. As crianças tendem a ter mais problemas quando as mães estão estressadas, deprivadas de uma boa noite de sono e em casamentos mal-nutridos. A educação acadêmica, bem como o estado emocional e saúde física em geral das mães são componentes principais para o bem-estar dos filhos.

Estes estudos também comprovaram que os momentos passados em famílias estruturadas que estão em harmonia, principalmente quando os filhos estão nos anos da adolescência, são os que os influenciarão para a vida, e afetarão negativa ou positivamente o desenvolvimento emocional, acadêmico e social na vida adulta.

O estudo sugere que a qualidade do tempo passado com os pais é ainda mais importante na fase da adolescência. O bom desenvolvimento emocional, psicológico e físico dos filhos é diretamente proporcional à qualidade do casamento dos pais, à qualidade do tempo e harmonia passados em família e, principalmente, à estrutura familiar e saúde emocional e física das mães.

Sinais de que você está sacrificando demais pelo sucesso

O sucesso profissional sempre vem com um preço muitas vezes alto. São muitas horas de trabalho, viagens, cursos, estresse, pouco tempo com a família, para si mesmo e toda ordem de sacrifícios, principalmente para os que se aventuram em um negócio próprio.

Num certo ponto porém, se tudo o que você está fazendo são sacrifícios, talvez isso signifique que você esteja pagando um preço muito alto pelo sucesso.

Se você se encaixa em apenas uma dessas situações abaixo, talvez seja hora de mudar alguma coisa.

1. Seu trabalho faz com que o tempo com a família fique de lado.

Se algumas atividades das crianças precisam ser canceladas ou perdidas por causa do trabalho, o entendimento é necessário, mas se a constância dos momentos em família são deixados de lado, e suas horas se resumem a trabalhar, a responder e enviar e-mails e fazer ligações telefônicas de trabalho, e o tempo com a família é sempre sacrificado, é hora de mudar algo.

2. Você não tem tempo nem para si mesmo.

Sua saúde sofre, seu descanso é sacrificado, seu bem-estar emocional é decadente, seu casamento e filhos estão sentindo sua falta, e isso com o tempo tende a aumentar e distanciar você ainda mais da família e de seus sonhos. Se seu lazer resume-se em jogar aplicações no telefone ou no tablet, preste atenção nas consequências disso em sua vida.

3. Você não pode tirar uma folga quando necessário.

Um emprego que exige de você tempo extra de sua própria vida e de sua família, que lhe faz acumular férias e até mesmo feriados quando você deveria estar descansando e passando um tempo de qualidade com a família não é um trabalho que dignifica.

4. Você está constantemente estressado e ansioso.

Estudos feitos por várias faculdades de medicina americanas (2) comprovaram que além do estresse tirar anos de nossa vida, pode até afetar a estrutura de nosso DNA. Enquanto fixamos nosso cérebro e energias no extremismo no trabalho, o sucesso nos negócios precisa de tempo e envolvimento saudável para crescer e se estabelecer, e isso é possível apenas com seres humanos felizes e capacitados psicologicamente, com todas as áreas de sua vida em harmonia.

5. Você não pode desligar seus eletrônicos.

Você talvez esteja em casa ou numa atividade com a família, mas está sempre conectado com a internet, o telefone e seus eletrônicos precisam estar sempre online atento para qualquer problema.

6. Você não tem amigos.

Quando as únicas relações pessoais são com os colegas de trabalho, você tem um problema. Workaholics tem uma boa conta bancária, mas não possuem vida social. As amizades ficam de lado, os familiares resumidos aos feriados de Natal e Dia das Mães ou Páscoa. Verdadeiros amigos, mesmo os que estão entre os familiares, irão sempre lhe dizer sem reservas que você trabalha demais ou precisa passar mais tempo com a família enquanto chefes e colegas de trabalho dirão que você precisa trabalhar mais para conseguir promoções e cumprir metas onde eles compartilharão dos resultados.

Seja um pai de família com um negócio próprio que necessita de atenção, homens e mulheres sujeitando-se a longas horas no trabalho para pagar as contas, mães solteiras que trabalham dia e noite para o sustento dos filhos, avós que se veem em posições que os pais deveriam prover o suporte dos netos, você precisa restabelecer e organizar sua lista de prioridades, colocando limites nas atividades profissionais em prol do casamento e família.

Hoje em dia, as grandes e estabelecidas empresas que mais reconhecem o valor de seus funcionários procuram profissionais completos e seguros, que saibam equilibrar o tempo no trabalho, com a família, colocando o lazer, o cuidado consigo mesmo e com seu próximo como complemento de uma vida de realizações e sucessos em todas as áreas.

Se você tem sucessos em algumas áreas de sua vida mas algo falta em outras, seja profissional, pessoal, psicológica ou espiritual que está deixando a desejar, algo precisa mudar. Somos seres completos com heranças divinas e merecemos ser felizes e estar satisfeitos em todas as áreas de nossa vida. Não somos perfeitos, mas podemos aprender todos os dias, usando nosso potencial para vivermos em harmonia.

A perpectiva divina

O que o Salvador quis dizer quando declarou que “o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”? (Marcos 2:27)

Ele queria que entendêssemos que o Dia do Senhor era Sua dádiva para nós, oferecendo-nos verdadeiro alívio dos rigores da vida cotidiana e uma oportunidade para renovação espiritual e física.

Quando posteriormente revelou os Dez Mandamentos a Moisés, Deus ordenou: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar”. (Êxodo 20:8)

Mais tarde, o Dia do Senhor foi cumprido como lembrete da libertação de Israel do cativeiro no Egito. (Deuteronômio 5:14-15)

Ou seja, as pessoas que decidem trabalhar sete dias por semana são essencialmente escravas — do trabalho ou talvez do dinheiro, mas escravas mesmo assim. Um milionário que trabalha sete dias por semana é um escravo rico.

Talvez o mais importante foi que o Dia do Senhor foi dado como um convênio perpétuo, um constante lembrete de que o Senhor pode santificar Seu povo. (Êxodo 31:13,16)

Em hebraico, a palavra Sábado significa “descanso”. O propósito do Dia do Senhor remonta à Criação do mundo, quando, após seis dias de trabalho, o Senhor descansou da obra da Criação. (Gênesis 2:2-3)

Concluo com as palavras de um senhor de aproximadamente 70 anos que respondeu minha pesquisa citada no início. Ele muito sabiamente relatou:

“Depois de muitos anos de trabalho intenso, olho para trás e vejo que os momentos que mais valeram a pena foram passados no seio de minha família. Não foram as muitas noites em claro preocupado com as dívidas, estressado com as horas extras, engordando mais e mais a conta no banco, dando presentes caros aos filhos e netos. Eles não se lembram de nada disso.

Muitas vezes não tinha tempo para nada durante a semana. Quando as crianças cresceram um pouco mais, raramente nos encontrávamos em casa nas noites e dias úteis.

Mas felizmente acordei em tempo e juntos aprendemos.

Uma coisa que sempre fizemos foi guardar o domingo como dia sagrado. Nenhuma agenda era preenchida em nosso lar nesse dia. Era o dia da família, dos filhos, de Deus.

Felizmente eles se lembram desses momentos preciosos onde brincamos, visitamos os familiares e os doentes, servimos aqueles que necessitavam, das muitas vezes que passamos um bom tempo de qualidade com filhos, ensinando-lhes a cumprir os mandamentos de Deus e O colocarem em primeiro lugar em suas vidas, e dedicarem-se à família.

Talvez o inimigo nos incite a concordar com o pensamento deste mundo de que podemos comprar tudo com dinheiro. Mas não podemos comprar paz de espírito e harmonia familiar se não dedicarmos um tempo de qualidade a Deus e a aqueles que amamos.

Os filhos não se lembram dos presentes caros que ganharam de Natal, das viagens, das roupas de marca. Eles se lembram dos exemplos, de como os fizemos sentir.

A saudade não são das coisas, mas de nossa presença.

Hoje, meus filhos, já crescidos e casados, fazem questão de guardar o dia santo e passar tempo de qualidade com suas próprias famílias e filhos. Juntos muitas vezes nos reunimos, vamos à Igreja, visitamos os doentes, estreitamos nossos laços.

Estamos juntos perpetuando a promessa do Senhor através das gerações. Não há dinheiro no mundo que compense essa bênção.”

Referências:

1. Melissa A. Milkie, Kei M. Nomaguchi, and Kathleen E. Denny, “Does the Amount of Time Mothers Spend With Children or Adolescents Matter?” Journal of Marriage & Family 77 (April 2015): 355-72. DOI:10.1111/jomf.12170: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jomf.12170/pdf

2. National Institute of Aging and the National Institutes of Health. David Beversdorf and Bryon Laskowski, both at Ohio State, and Amanda Damjanovic, Yinhua Yang, Huy Nguyen and Yixiao Zou, all with the National Institute of Aging: http://www.medicalnewstoday.com/releases/82964.php


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